segunda-feira, 27 de junho de 2011

DEM rediscute imagem de ser ou não de 'direita'

AE - Agência Estado

Embalado pela crise no governo que derrubou o ex-ministro Antonio Palocci (Casa Civil) e pela desarticulação do PSDB, maior partido de oposição, o DEM resolveu fazer um "reposicionamento de imagem", o que abriu internamente a discussão sobre o uso de expressões como "direita". Após a refundação em 2007, quando abandonou a sigla PFL numa jogada de marketing considerada malsucedida pela direção partidária, o DEM vai lançar nova linha de comunicação no segundo semestre, depois de medir os ânimos do eleitorado em pesquisa qualitativa e quantitativa.

A sondagem será decisiva para se chegar à nova "roupagem" do partido - embora pouco provável, não está descartado o resgate do antigo PFL e o abandono da sigla DEM, manchada depois do escândalo envolvendo o ex-governador do DF José Roberto Arruda, no episódio conhecido por "mensalão do DEM". "A questão do conteúdo a gente já tem avançado. A consistência do que acreditamos já está acertada. Agora o que falta é a definição da embalagem", afirmou o líder do partido na Câmara, ACM Neto (BA).

Parte do ideário do DEM, que se diz defensor do liberalismo econômico e da livre iniciativa, foi moldada após pesquisa de 2007, do Instituto GPP, com 2 mil entrevistados. De acordo com o levantamento, a maioria dos brasileiros é contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a legalização das drogas e do aborto. Entre as palavras mais positivas consideradas pelo eleitor, estão "religião", "trabalho" e "moral".

Mas, se há consenso sobre o programa do partido, há dúvidas a respeito do formato. Para uma vertente, o rótulo da direita ficou associado ao período da ditadura e a partidos que não gostam de pobres. Portanto, seria uma armadilha usá-lo. Para outra, existe no País um eleitor "órfão", que é contra o governo e que quer um posicionamento claro de oposição. "Temos de mostrar nossas bandeiras. Se não, fica difícil sair da mesmice", afirmou o presidente do DEM paulistano, Alexandre de Moraes.

Jornal O Estado de SP

PSD é formado com ajuda de caciques regionais, de petistas e até de tucanos

Legenda concebida por Kassab é turbinada nos Estados a partir de interesses locais e vira ajuntamento da velha oligarquia
Christiane Samarco e Eugênia Lopes - O Estado de S. Paulo

Brasília - Concebido como projeto político paulista e pessoal do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, o novo PSD nasce como um ajuntamento de sublegendas de caciques tradicionais da política nos Estados. É a partir da força local de lideranças como o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e de governadores do PMDB, do PT, do PSDB, do PSB, do PMN e do DEM, que Kassab e seus operadores constroem a sigla nacional.

Ayrton Vignola/AE
Ayrton Vignola/AE
O PSD é iniciativa do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab e do vice-governador Guilherme Afif


Líderes do DEM e do PSDB apostam que o PSD terá dificuldades para sair do papel e torcem pelo fracasso da operação. No registro da nova legenda no cartório eleitoral dois meses atrás, 33 deputados de 12 siglas diferentes anunciaram a adesão e assinaram o documento. Anúncios à parte, no entanto, até hoje nenhum político deixou sua legenda para ingressar no PSD. Nem Kassab, que agora a direção do DEM quer expulsar.


Apesar da demora, quem está com um pé no PSD diz que não tem dúvida quanto à conveniência da troca. O que vale aí é a máxima segundo a qual quem tem prazo, não tem pressa. O prazo legal em questão é o que estabelece no mínimo um ano de filiação partidária para os candidatos às eleições municipais de 2012.
Ao menos em tese, as filiações ao PSD poderão se arrastar até a primeira semana de outubro, com o cuidado de deixar claro perante a Justiça Eleitoral que essas pessoas participaram da construção do novo partido.


Padrinhos. A lista de padrinhos e patrocinadores do novo partido inclui os governadores da Bahia, Jaques Wagner (PT); do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB); de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB); de Santa Catarina, Raimundo Colombo (DEM); do Amazonas, Omar Aziz (PMN), e de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Mas todos, exceto o catarinense Colombo, também vão ficar onde estão, usando o PSD como sublegenda para ampliar a força política em seus Estados.


Colombo é exceção porque integra o grupo de Kassab e do ex-presidente nacional do DEM Jorge Bornhausen. Foi este trio que formulou a ideia da nova legenda a partir da derrota na briga interna pelo comando do DEM, contra os deputados ACM Neto (BA) e Rodrigo Maia (RJ). Precisamente por isto, Neto e Maia se tornaram alvos da política predatória do PSD.


Na Bahia, Kassab se aliou ao governador petista que, não por acaso, entregou a tarefa da montagem do PSD ao vice-governador Otto Alencar (PP). O vice é um velho dissidente do grupo do ex-senador Antonio Carlos Magalhães que agora se dedica a esvaziar ainda mais o espólio daquele que já foi conhecido como “dono da Bahia”, levando todos com ele para o PSD.


Metade da bancada baiana do DEM - três deputados federais - assinou a ficha do novo partido. Até o primo de ACM Neto, o deputado Paulo Magalhães (DEM), aderiu ao PSD e passou a votar com o governo na Câmara.

Fonte: Jornal O Estado de SP

domingo, 26 de junho de 2011

Na 1ª cúpula como presidente, Dilma participa de 'reflexão' sobre Mercosul

Segundo Itamaraty, haverá pouco acordo e ‘muita reflexão’.
Crescimento é 'silencioso' e problemas, 'ruidosos', diz embaixador.

Nathalia PassarinhoDo G1, em Brasília


Presidentes dos países do Mercosul durante a cúpula do bloco em 2010 em Foz do Iguaçu (Foto: Ricardo Stuckert / PR)Presidentes dos países do Mercosul durante a
cúpula do bloco em 2010 em Foz do Iguaçu (Foto:
Ricardo Stuckert / PR)

A presidente Dilma Rousseff participa na próxima quarta-feira (29), no Paraguai, da primeira cúpula do Mercosul desde que tomou posse no cargo. Segundo o Itamaraty, a reunião do bloco formado por Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina terá pouco resultado concreto e muita “reflexão” sobre o futuro da integração regional.

“O foco será pensar o que podemos fazer para aprofundar a integração e corrigir elementos que não estão bons. Será menos de tomar decisões e mais de trabalhar nesse exercício de reflexão. Estamos criando as novas pautas”, afirmou o subsecretário-geral de América do Sul, embaixador Antônio Simões. Ele afirmou que os acordos a serem firmados serão “técnicos”.

A presidente Dilma Rousseff deve chegar a Assunção, capital do Paraguai, na manhã de terça (29). Por volta das 10h, ela terá reunião bilateral com o presidente paraguaio, Fernando Lugo. De acordo com o Itamaraty, serão assinados acordos de cooperação voltados à segurança na fronteira.

Dilma vai aproveitar o encontro para conversar sobre a aprovação no Congresso do projeto que autoriza o Brasil a triplicar o valor pago ao Paraguai pela energia excedente da usina hidrelétrica binacional de Itaipu, no rio Paraná, na fronteira entre os dois países. O aumento da tarifa era uma reivindicação do Paraguai que foi acolhida pelo governo brasileiro.. “Ela vai conversar sobre isso [Itaipu]. Era um compromisso da época do presidente Lula que foi cumprido por ela” disse Simões.

Após o encontro com Lugo, por volta das 11h, começa a reunião de cúpula do Mercosul. Às 13h, os chefes de Estado dos países presentes almoçam. Em seguida, participam de uma reunião reduzida e fazem uma declaração conjunta. A previsão é de que Dilma retorne ao Brasil ainda na quarta-feira, no início da noite.

O que acontece com o Mercosul é que o crescimento é silencioso e os problemas são ruidosos"
embaixador Antônio Simões, subsecretário-geral de América do Sul

Ajuda
De acordo com o embaixador, a mensagem de Dilma ao Mercosul será de oferecer ajuda para que os demais países peguem carona no crescimento do Brasil.

“A mensagem que a gente vai levar é a mensagem de nós buscarmos trabalhar com os vizinhos. Trabalhar com o Mercosul para reduzir a pobreza, eliminar a miséria. Não vai ter proposta até porque o formato não é este. O formato é que você vai desenvolvendo o trabalho ao longo do semestre e este semestre é mais reflexivo”, disse.

O embaixador afirmou que há um “temor” de que o Mercosul perca força como um bloco formado por um país importante em meio a nações detentoras de economias menos relevantes. Segundo ele, o Brasil representa 54% da economia da América do Sul.

“A importância relativa do Brasil em relação aos vizinhos cresceu. Ainda que tenhamos hoje no Mercosul crescimento dinâmico, a base [dos integrantes do bloco] é muito menor em relação ao Brasil. Temos que nos preocupar em inserí-los no nosso processo de desenvolvimento e fazer com que o nosso desenvolvimento leve-os a crescer mais.”

Problemas 'ruidosos’
O embaixador negou que o Mercosul esteja “sem rumo” e estagnado no objetivo de concretizar uma efetiva integração regional.

“A gente lê muito isso, mas não consigo achar que está perdido se você tem um crescimento total tão grande. Se você tem um crescimento do comércio de dez vezes em 20 anos, eu não consigo achar que está perdido.”

Simões admitiu, contudo, que a integração dos países do Mercosul poderia estar “melhor” encaminhada e que é preciso repaginar o bloco para adequá-lo à nova realidade econômica. Ele destacou que a economia mundial mudou rapidamente nesta década, principalmente com o aumento substancial da importância da China no cenário internacional.

“O que acho é o seguinte. O Mercosul poderia estar melhor? Sim. Uma parte da reflexão que estamos fazendo é que quando criamos o Mercosul a realidade era diferente.”

Para Simões, o crescimento do Mercosul é "silencioso" e os problemas, "ruidosos". Ele afirmou que, quando há conflitos relacionados à transação comercial entre Argentina e Brasil, por exemplo, a questão é levantada como problema político entre os dois países.

A bandeira do Mercosul (Foto: Reprodução)A bandeira do Mercosul (Reprodução)

"O que acontece com o Mercosul é que o crescimento é silencioso e os problemas são ruidosos. Na nossa realidade, há uma tendência de, a cada pequeno problema comercial, você considerar que é um problema político de um país com o outro país. Às vezes é um problema comercial”, disse.

Em fevereiro, a Argentina aumentou para 600 os produtos que passariam a ser importados sob regime de licença prévia e não mais automática. Em retaliação, o Brasil suspendeu por 60 dias a licença automática para a importação de veículos, o que prejudicou a indústria argentina de automóveis. Segundo o Itamaraty, de dez carros exportados pela Argentina, cinco são comprados pelo Brasil.

Venezuela
Outro tema que deve ser aventado na reunião de cúpula do Mercosul é a entrada da Venezuela no bloco, que depende apenas da aprovação do Congresso paraguaio.

O governo defende a integração do país vizinho, mas diz que não pretende pressionar o governo do Paraguai a acelerar a votação da proposta.

“Obviamente que gostaríamos que isso ocorresse, mas é algo que depende de lá, internamente. Não há como interferir. Temos confiança de que a solução será a melhor possível, mas é um problema interno”, afirmou Simões.

Globo.com

terça-feira, 14 de junho de 2011

Dilma: não há dicotomia entre governo técnico e político


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Presidente Dilma Rousseff durante cerimônia de posse dos ministros Ideli Salvatti (Secretaria de Relações Institucionais) e Luiz Sérgio (Pesca e Aquicultura). 13/06/2011.

REUTERS/Ueslei Marcelino

Por Hugo Bachega

BRASÍLIA (Reuters) - A presidente Dilma Rousseff disse nesta segunda-feira não haver divisões entre um governo técnico e político, em meio a críticas de parlamentares aliados e petistas sobre a articulação política do Planalto.

"Não existe dicotomia entre governo técnico e político", disse Dilma durante a cerimônia de posse dos ministros Ideli Salvatti (Secretaria de Relações Institucionais) e Luiz Sérgio (Pesca e Aquicultura).

"Valorizo muito a capacidade técnica e a gestão eficiente, até porque nenhum país do mundo conseguiu elevado padrão de desenvolvimento sem eficiência nas suas atividades governamentais e absorção das técnicas mais avançadas disponíveis."

Em meio à crise que levou à demissão do ex-ministro Antonio Palocci da chefia da Casa Civil, parlamentares aliados e petistas reforçaram o coro de desagrado com a articulação política do governo --então a cargo de Luiz Sérgio mas, na prática, exercida por Palocci.

As reclamações incluem também a falta de interação com a presidente, cuja atuação está centrada no seu perfil mais gerencial.

"A importância que meu governo atribui à atividade política se reflete na compreensão de que a continuidade das grandes transformações necessárias ao desenvolvimento econômico e social do Brasil só podem nascer da negociação, da articulação de interesses e da nossa capacidade de identificar afinidades e convergências onde à primeira vista parece existir só conflito e diferença", afirmou.

Dilma também reforçou a atuação do governo para garantir desenvolvimento econômico e inclusão social, com atuação "determinada" desde que assumiu para controlar a inflação e garantir o superávit primário.

Segundo ela, a política monetária e fiscal do país é compatível com o crescimento e a geração de empregos.

(Com reportagem de Jeferson Ribeiro e Maria Carolina Marcello)

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Aprovação de governo Dilma fica estável após Palocci--Datafolha


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A avaliação positiva do governo da presidente Dilma Rousseff(foto de arquivo)subiu dentro da margem de erro para 49 por cento, de acordo com pesquisa do instituto Datafolha divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo.

REUTERS/Ueslei Marcelino


SÃO PAULO (Reuters) - A avaliação positiva do governo da presidente Dilma Rousseff subiu dentro da margem de erro, para 49 por cento, de acordo com pesquisa do instituto Datafolha divulgada na edição deste domingo do jornal Folha de S.Paulo.

O levantamento mostrou também uma piora da imagem da presidente, pouco mais de cinco meses após o início de seu governo, e logo após a primeira crise política de sua administração, que levou à queda do ex-ministro da Casa Civil, Antonio Palocci.

De acordo com o Datafolha, 49 por cento dos entrevistados avaliam o governo Dilma como ótimo ou bom, contra 47 por cento no levantamento realizado entre 15 e 16 de março. A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais.

O percentual que considera a administração da presidente regular subiu de 34 por cento para 38 por cento e os que a consideram ruim ou péssima somaram 10 por cento, contra 7 por cento no levantamento anterior. Três por cento afirmaram não saber, contra 12 por cento em março.

Na semana passada o governo Dilma sofreu sua primeira baixa, após o pedido de demissão de Palocci em meio a suspeitas sobre o significativo aumento patrimonial do ex-ministro.

Embora a avaliação do governo Dilma tenha se mantido estável, de acordo com o Datafolha, 60 por cento dos entrevistados consideraram o caso Palocci prejudicial para a presidente que, na avaliação de 33 por cento, teve bom desempenho no episódio.

Para 36 por cento o desempenho foi regular, e para 17 por cento foi ruim ou péssimo.

Após a queda de Palocci, Dilma fez uma segunda mudança em seu ministério colocando a ex-ministra da Pesca Ideli Salvatti no comando da Secretaria de Relações Institucionais e o ex-titular da SRI, Luiz Sérgio, à frente do Ministério da Pesca.

A imagem pessoal de Dilma também piorou, segundo o Datafolha. Em março, 79 por cento consideravam a presidente decidida, agora são 62 por cento. Quinze por cento a viam como indecisa, agora são 34 por cento.

A percepção de que Dilma é muito inteligente caiu de 85 por cento para 76 por cento, e a de que ela é pouco inteligente subiu de 9 para 20 por cento.

Para 77 por cento dos entrevistados, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa das decisões tomadas pelo governo Dilma, ao mesmo tempo que 64 por cento consideram que Lula deve participar das decisões da administração de sua sucessora e afilhada política.

O Datafolha ouviu 2.188 pessoas entre os dias 9 e 10 de junho.

(Por Eduardo Simões)

Dilma cede a pressões e agora quer manter sigilo eterno de documentos

Ideli Salvatti disse ao ‘Estado’ que governo vai atender a reivindicações dos senadores e ex-presidentes José Sarney e Fernando Collor para facilitar tramitação do projeto no Senado

Eduardo Bresciani, de O Estado de S. Paulo

A presidente Dilma Rousseff vai patrocinar no Senado uma mudança no projeto que trata do acesso a informações públicas para manter a possibilidade de sigilo eterno para documentos oficiais. Segundo a nova ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, o governo vai se posicionar assim para atender a uma reivindicação dos ex-presidentes Fernando Collor (PTB-AL) e José Sarney (PMDB-AP), integrantes da base governista.

A discussão sobre documentos sigilosos tem como base um projeto enviado ao Congresso pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2009. No ano passado, a Câmara aprovou o texto com uma mudança substancial: limitava a uma única vez a possibilidade de renovação do prazo de sigilo. Com isso, documentos classificados como ultrassecretos seriam divulgados em no máximo 50 anos. É essa limitação que se pretende derrubar agora.

"O que gera reações é uma emenda que foi incluída pela Câmara. Vamos recompor o projeto original porque nele não há nenhum ruído, nenhuma reação negativa", disse Ideli ao Estado.

Acatar a mudança defendida pelos ex-presidentes é a forma encontrada para resolver o tema, debatido com frequência no Senado desde o início do ano. O governo cogitou fazer um evento para marcar o fim do sigilo eterno - Dilma sancionaria a lei em 3 de maio, Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.

Temerário

O desfecho não foi assim por resistência de Collor. Presidente da Comissão de Relações Exteriores, ele decidiu relatar a proposta e não deu encaminhamento ao tema. No dia 3 de maio, o ex-presidente foi ao plenário e mandou seu recado ao Planalto ao classificar de "temerário" aprovar o texto como estava. "Seria a inversão do processo de construção democrática."

Desde então, a votação vem sendo adiada repetidas vezes. Na semana passada, Dilma almoçou com a bancada do PTB no Senado. Na ocasião, Collor teria manifestado sua preocupação sobre o tema e exposto argumentos contrários ao fim do sigilo.

Jornal O Estado de SP

domingo, 12 de junho de 2011

Dilma começa a 'controlar próprio governo', avaliam analistas

Presidente trocou principais nomes do ministério em uma semana.
Para cientistas políticos, escolhas pessoais de Dilma a afastam de Lula.

Andréia Sadi e Iara LemosDo G1, em Brasília


Presidenta Dilma Rousseff cumprimenta a nova ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Gleisi Hoffmann, durante a posse na última quarta-feira (8). (Foto: Roberto Stuckert Filho/Presidência)Dilma cumprimenta a nova ministra-chefe da Casa
Civil, Gleisi Hoffmann, em cerimônia de posse na
última quarta (8). (Foto: Roberto Stuckert Filho/
Presidência)

Com seis meses no governo, a equipe ministerial de Dilma Rousseff passou pelo seu primeiro “test drive” nesta semana. Duas das principais figuras do núcleo central do governo, Antonio Palocci e Luiz Sérgio deixaram os ministérios da Casa Civil e das Relações Institucionais, respectivamente, pressionados pelos principais partidos aliados. Ambos foram substituídos por duas escolhas pessoais da presidente: a senadora Gleisi Hoffmann e a ex-senadora Ideli Salvatti.

Para analistas ouvidos pelo G1, as mudanças dão a Dilma mais controle sobre o próprio governo, além de reforçar o rótulo de “governo feminino”, uma das bandeiras de sua campanha. Com a reformulação da chamada "cozinha" do governo, o Planalto terá três mulheres nos cargos-chave do governo.

“Isso é uma coisa interessante. O gabinete realmente adquiriu uma cara feminina. Nesse aspecto é bom. Reforça a própria condição das mulheres no processo político”, avalia o cientista político Leonardo Barreto.

Indicado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o governo de Dilma ainda na campanha eleitoral, Antônio Palocci foi coordenador da campanha petista em 2010 e, já no ministério, era considerado o homem forte do governo. Palocci, contudo, não resistiu a uma série de denúncias envolvendo ocrescimento do seu patrimônio pessoal.

“Sai uma pessoa que tinha um papel importante nas decisões e não entra uma pessoa com o peso equivalente ao do Palocci. A Dilma passa a ter mais autonomia”, disse Barreto.

Sem Palocci, Dilma substituiu um nome de confiança do ex-presidente por uma escolha pessoal. Senadora em primeiro mandato, Gleisi Hoffmann (PT-PR) foi convidada para comandar o principal ministério do governo. "Sai o 'lulista' [Palocci] e entra uma candidata a 'dilmista", aposta David Fleischer, professor da Universidade de Brasília (UnB).

A opção de Dilma por Gleisi surpreendeu o aliado PMDB e o próprio PT, já que nenhum dos dois partidos foi consultado a respeito da troca. Durante a semana, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, admitiu “surpresa” com a escolha, mas disse que a substituição foi uma “surpresa boa”. Na análise do cientista político David Fleischer, isso é um sintoma de que Dilma decidiu imprimir a sua marca pessoal no governo.

“Dilma vai imprimir o logotipo dela e tentar colocar gente de confiança nos cargos-chave do governo. Mas precisa se envolver mais, deixou a política a cargo de Palocci e escanteou o PMDB, que, apesar de tudo, é essencial para governar”, disse o professor.

Ideli Salvattie a presidente Dilma Rousseff(d) em cerimônia comemorativa do 146º Aniversário da Batalha Naval do Riachuelo, no Grupamento de Fuzileiros Navais de Brasília. (Foto: ANDRE DUSEK/AGÊNCIA ESTADO/AE)Ideli Salvatti e Dilma em cerimônia comemorativa
do 146º Aniversário da Batalha Naval de Riachuelo
nesta sexta, em Brasília, antes do anúncio de que a
ministra iria para a Casa Civil (Foto: André Dusek /
Agência Estado)

Poder feminino
Com as alterações feitas nesta semana, dos 37 ministérios do governo, dez estão sob o comando de mulheres. Na montagem do quebra-cabeças do Planalto, a idéia inicial da presidente era preencher os cargos na Esplanada com 30% de mulheres. A meta está perto, mas ainda não foi atingida.

“Dilma está conseguindo, neste segundo tempo do governo, imprimir mais a sua marca. Na posse, já havia sinalizado isso quando convidou sua turma de militantes, usou a bandeira na eleição”, relembra Fleischer.

Ideli Salvatti, petista de Santa Catarina, substitui o ex-ministro Luiz Sérgio (PT-RJ), que deixou o cargo após críticas de parlamentares sobre a articulação política do governo. Luiz Sérgio vai para o lugar de Ideli, no Ministério da Pesca e Aquicultura. Assim como aconteceu com Gleisi Hoffmann, os partidos aliados não foram consultados por Dilma a respeito da indicação da ex-ministra para o cargo.

A preferência do PMDB, por exemplo, era o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza. No entanto, Vaccarezza encontrava resistência dentro do próprio partido, como o grupo do presidente da Câmara, Marco Maia.

Para o cientista político da Universidade de São Carlos (Ufscar), Marco Antonio Villa, Dilma pode até formar o “clube da luluzinha”, mas, segundo ele, a marca é fraca para segurar um governo de 4 anos. A estrutura do governo vai depender muito da atuação das mulheres escolhidas por Dilma, avalia.

“Dilma pode até vender isso eleitoralmente, a questão do gênero, mas é pequeno deixar a marca por aí. O governo vive crise política com o Congresso Nacional. A crise não chama-se Palocci, chama-se Dilma Rousseff”, afirmou Villa.

Para o analista, Dilma erra ao não consultar aliados. "Ela não ouviu sequer o PT. Ela se trancou com um grupo e apresenta tudo como prato feito", disse. "Política é negociação, é ouvir o outro aliado, o adversário, trocar ideias. Politica não é passar como trator", disse Villa.

Globo.com