
Foto: Ag. Brasil
Opinião
Uma aposta sobre a decisão de Serra
Aristóteles Drummond
Um analista político não pode resistir a voltar a um tema já abordado, mas que a cada dia ganha contornos de uma realidade inevitável: a de que o governador de São Paulo, José Serra, não deixará o cargo e, portanto, deverá disputar a reeleição, não sendo candidato a presidente da República.
As pesquisas do final de semana passada demonstraram claramente que seu favoritismo era fruto de uma fotografia de momento, em que ele era o nome mais conhecido – e sua oponente, uma ilustre desconhecida. Poucos meses marcam o avanço, sem o menor sinal de resistência, de sua candidatura. Não pelos méritos da presença ou do carisma da candidata petista, mas justamente pela falta de carisma, de simpatia, força no mundo político e empresarial de seu oponente.
Sendo Serra candidato, o PP, PTB, PDT, PSB e outros partidos e forças políticas não veem sentido em deixar o doce convívio com o presidente Lula. Muito menos o PMDB tão cortejado, que, certamente, se sentiria mais confortável formando chapa com o PSDB e os democratas, por afinidades que existem desde a Constituinte.
O Sr. José Serra não é homem audacioso, embora ambicioso, e não deverá correr risco tão alto quando pode ser reeleito para governar o maior e mais importante estado da federação. Tem toda razão o deputado Ciro Gomes quando aborda esta questão e prevê a não-candidatura do governante paulista.
A mais, uma prova de que a candidatura Serra é encarada com pessimismo pelos políticos, é que não existe disputa pelo lugar de seu vice e, sim, movimentos e pressões junto ao governador de Minas, Aécio Neves, numa tentativa desesperada de obter o apoio dos mineiros.
Resta realmente saber se, dentro de menos de um mês, os tucanos se voltarão para o candidato natural que é (e entendemos que sempre foi) o governador Aécio Neves. Ou, então, se decidem optar pela solução Fernando Henrique Cardoso, que, na realidade eleitoral, pode não ser o ideal, pela sua idade e pelo desgaste de quem governou oito anos. Mas é melhor, e bem melhor, do que seu companheiro de partido e ex-ministro, que é homem cheio de arestas.
Tem mais: Serra sempre criticou o que deu certo no governo de FHC, que foi a política econômica, entregue a gente competente como Pedro Malan e Armínio Fraga. E no Ministério da Saúde foi um blefe, inclusive ao tentar se apossar da implantação dos genéricos no Brasil, uma iniciativa de Jamil Haddad, ministro de Itamar Franco.
O que fascina no atual quadro político nacional, no entanto, é que, em sendo José Serra candidato, provavelmente derrotado, saber quem será a liderança nacional que surgirá para a defesa das liberdades democráticas, da ordem, da iniciativa privada e do alinhamento do Brasil com seus tradicionais parceiros – e não com Venezuela, Irã e Cuba.
Quem assumir essa oposição, mantido o quadro político, será o sucessor de Dilma. Evidente que a oposição ao programa da candidata do presidente Lula, bem mais à sua esquerda, não seria o seu adversário, igualmente de esquerda, que viveu com entusiasmo os anos Allende no Chile, clima que o Brasil parece poder repetir 30 anos depois.
Vamos ter muitas novidades nas próximas semanas. Fica a aposta de que Ciro Gomes sabe o que diz quando duvida da candidatura Serra na corrida presidencial.
Aristóteles Drummond é jornalista e vice-presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro. ari.drummond@yahoo.com.br
Diário do Comércio de 3 de narço de 2010
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