segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Empório Brasil: cada um no seu estilo


Empório Brasil: cada um no seu estilo
Sergio Kapustan - 13/12/2009 - 21h49

Tradição gastronômica do Natal, o panetone mudou seu simbolismo no Brasil com o escândalo de corrupção envolvendo o governador do Distrito Federal (DF), José Roberto Arruda, e seu vice, Paulo Octávio. Mas já antes de a iguaria italiana entrar para a história do País, monarcas e políticos brasileiros tiveram os nomes associados à culinária e à bebida – por excesso, paladar, esperteza calculada ou deslize.

Em cada período histórico, os prazeres da mesa e de bebericar um destilado, por exemplo, foram explorados de forma jocosa. Também funcionaram como instrumentos de marketing e de habilidade política, quando não de ostentação de poder.

Marco da história do Brasil, a vinda da família real portuguesa, em 1808, ficou associada a um fato controverso. Casado com a rainha Carlota Joaquina, mulher de temperamento forte e hábitos pouco familiares, o rei D. João VI tinha o estranho hábito de carregar coxas de galinha nos bolsos e devorá-las quando lhe batia a fome.




Com a República, o País começou a conhecer os hábitos privados dos políticos por meio da mídia. Duas vezes presidente da República, Getúlio Vargas foi fotografado várias vezes em momentos de reclusão com bombacha de gaúcho e bebendo o típico chimarrão do Rio Grande do Sul.

Jânio, mortadela e poire – Apontado por especialistas com um fenômeno de marketing pessoal, Jânio Quadros lançou a vassoura na política para varrer a corrupção. Mas a sua trajetória também ficou marcada pelo gosto da bebida, pela caspa artificial nos ombros e pelo sanduíche de mortadela que, guardado no bolso do paletó, era exibido em comícios para mostrar sua origem popular.

Da mesma época de Jânio, Ulysses Guimarães pegou na bebida com elegância. Antigos aliados do PMDB recordam, que as reuniões e os jantares sempre incluíam uma garrafa de "poire" – aguardente de pêra. Era consumida pelos companheiros, entre eles, Pedro Simon, Jarbas Vasconcelos e Tancredo Neves. O círculo de peemedebistas ficou conhecido como a "turma do poire".


Collor e Logan – Primeiro presidente eleito pelo voto direto após a redemocratização, Fernando Collor de Mello abriu a economia do País e, como Jânio, soube explorar sua imagem pessoal.
A Casa da Dinda, por exemplo, residência oficial de seu curto governo e alvo de denúncias envolvendo o esquema PC, ficou conhecida pelas corridas dominicais e por oferecer uísque Logan às visitas.
Após a queda de Collor, o vice Itamar Franco assumiu o cargo. Mineiro, Itamar recebia os amigos no final do expediente com pão de queijo acompanhado de scotch.

Era Lula – Líder sindical, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi alvo de comentários por exagerar no consumo de bebida alcoólica durante sua trajetória política.
Ao ocupar a presidência, a situação não se alterou. A ocasião mais séria ocorreu em 2004, quando o jornalista Larry Rohter, do The New York Times, publicou uma matéria sobre o hábito de beber do presidente que, segundo ele, preocupava o País.
Irritado com a reportagem, o governo Lula suspendeu temporariamente o visto do correspondente e pretendia expulsá-lo. A repercussão do caso foi internacional, mas a expulsão não se consumou. Rother deixou o Brasil em 2007.
Na campanha de 2002, Lula foi personagem de outro fato curioso envolvendo bebida. Empolgado com o desempenho do então candidato petista no último debate do primeiro turno, o publicitário Duda Mendonça o presenteou com uma garrafa do vinho tinto francês Romanée Conti – um dos melhores e mais caros do mundo. O precioso vinho foi servido no restaurante Osteria Dell'Angolo, em Ipanema, no Rio de Janeiro. A imponente garrafa vazia foi exposta no estabelecimento até outubro, quando foi roubada.
Outra tradição da cultura italiana – a pizza – está indelevelmente presente na vida do PT e de forma simbólica. Em 2006, a então deputada Ângela Guadagnin (PT-SP) fez a "dança da pizza" durante a votação da cassação do deputado João Magno (PT-MG). Ele foi acusado de se beneficiar do esquema do valerioduto. Foi absolvido, mas não conseguiu se reeleger. Nem ela: dançou, na pior acepção da palavra – nunca mais teve voto suficiente para assumir cargo no legislativo.




Diario do Comercio de 14 de dezembro de 2009

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