
A substituição de Amorim não representa uma mudança; Dilma luta para dizer que ela é a presidente, em um país que a elegeu como um pseudônimo de Lula (Michel Euler / AFP)
Diplomacia
Cara da política externa de Dilma será a mesma de Lula
Na bolsa de apostas para o Itamaraty, não há surpresas: seja quem for o chanceler, prosseguirá a política lulista, mas sem o carisma do presidente
Manuela Franceschini
A substituição de Amorim não representa uma mudança;
Na disputa pela vaga do ministério das Relações Exteriores, figuram quatro homens e quatro mulheres. Lideram Antônio Patriota, atual secretário-geral do Itamaraty, e Maria Nazareth Farani Azevedo, ex-chefe de gabinete de Amorim, representante do Brasil na ONU em Genebra, considerada uma das diplomatas mais experientes
O ministro Celso Amorim tentou mas, ao que tudo indica, não continuará à frente da chancelaria brasileira. Sua substituição, no entanto, está longe de ser um componente de mudança do governo de Dilma Rousseff. A razão para a troca é outra: “Dilma luta para dizer que ela é a presidente, em um país que a elegeu como um pseudônimo. A saída de Amorim entra na tentativa de firmar sua autonomia”, afirmou ao site de VEJA o sociólogo Demétrio Magnoli.
Na disputa pela vaga do ministério das Relações Exteriores figuram quatro homens e quatro mulheres. Entre os homens, lidera Antônio Patriota, atual secretário-geral do Itamaraty. Dilma pode escolher ainda entre Maurício Bustani, ex-embaixador em Londres (atualmente em Paris) e José Viegas, embaixador em Roma, que já foi ministro da Defesa e é próximo a José Dirceu. O nome de Nelson Jobim também entrou na bolsa de apostas.
Entre as mulheres, a mais cotada é Maria Nazareth Farani Azevedo, ex-chefe de gabinete de Amorim, representante do Brasil na ONU em Genebra, considerada uma das diplomatas mais experientes. Também aparecem na lista Regina Dunlop, embaixadora número dois da missão brasileira na ONU; Vera Lúcia Machado, subsecretária-geral de Política, com 42 anos de carreira diplomática; e Maria Luiza Viotti, primeira embaixadora do Brasil na ONU, que representou o país no voto contra as sanções ao Irã.
Continuísmo - Para todas essas opções, a linha é continuísta. “Patriota é herdeiro intelectual do Amorim. Todos os outros também são muito alinhados a ele. A única possibilidade de alguma pequena mudança seria Jobim, o que sinalizaria uma movimentação em relação ao plano militar na política externa”, avaliou Alberto Pfeifer, membro do Conselho Empresarial da América Latina e analista do Grupo de Análise de Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo (Gacint-USP).
Para Christian Lohbauer, também membro do Gacint, estes nomes fazem parte de uma escola ‘nacionalista’ do Itamaraty, que começou com Araújo Castro, diplomata do período imperial. “Eles foram doutrinados conforme o pensamento de que o Brasil pode mudar a geografia nacional, priorizando a agenda sul-sul, o que não traz benefício econômico nenhum”, afirmou.
Nesta estratégia, segundo Lohbauer, Lula se saía melhor. “Ele tem uma personalidade que se impõe, e foi criada uma imagem dele no mundo por sua história de vida. Esse carisma Dilma não tem. Ela é mais técnica", disse. "Na política externa, não haverá o mesmo traquejo e a mesma popularidade que Lula teve. Por isso, Dilma será ainda mais refém dessa escola. Montarão a agenda dela e terão muito mais força do que tinham com a autonomia moral de Lula.”
Futuro - A nova chancelaria deve continuar a abrir embaixadas. Sob a batuta de Lula, o Ministério das Relações Exteriores inaugurou 62 representações diplomáticas e consulares pelo mundo. Atualmente, o país conta com 212 postos.
Muitos destes postos, no entanto, não têm qualquer relevância no cenário político e econômico internacional. “É a miragem do Brasil potência. Partindo disso, passa-se a acreditar que o país pode interferir em assuntos como o conflito no Oriente Médio e a questão nuclear no Irã”, afirmou Magnoli. “Essa miragem foi a base da política externa do governo Lula, continuará sendo a do governo Dilma, e faz com que o Brasil multiplique suas embaixadas em uma campanha estridente para conseguir uma cadeira permanente no conselho de segurança da ONU. Ou seja, a cara da nova política externa é a mesma da anterior.”
REVISTA VEJA
Diplomacia
Cara da política externa de Dilma será a mesma de Lula
Na bolsa de apostas para o Itamaraty, não há surpresas: seja quem for o chanceler, prosseguirá a política lulista, mas sem o carisma do presidente
Manuela Franceschini
A substituição de Amorim não representa uma mudança;
Na disputa pela vaga do ministério das Relações Exteriores, figuram quatro homens e quatro mulheres. Lideram Antônio Patriota, atual secretário-geral do Itamaraty, e Maria Nazareth Farani Azevedo, ex-chefe de gabinete de Amorim, representante do Brasil na ONU em Genebra, considerada uma das diplomatas mais experientes
O ministro Celso Amorim tentou mas, ao que tudo indica, não continuará à frente da chancelaria brasileira. Sua substituição, no entanto, está longe de ser um componente de mudança do governo de Dilma Rousseff. A razão para a troca é outra: “Dilma luta para dizer que ela é a presidente, em um país que a elegeu como um pseudônimo. A saída de Amorim entra na tentativa de firmar sua autonomia”, afirmou ao site de VEJA o sociólogo Demétrio Magnoli.
Na disputa pela vaga do ministério das Relações Exteriores figuram quatro homens e quatro mulheres. Entre os homens, lidera Antônio Patriota, atual secretário-geral do Itamaraty. Dilma pode escolher ainda entre Maurício Bustani, ex-embaixador em Londres (atualmente em Paris) e José Viegas, embaixador em Roma, que já foi ministro da Defesa e é próximo a José Dirceu. O nome de Nelson Jobim também entrou na bolsa de apostas.
Entre as mulheres, a mais cotada é Maria Nazareth Farani Azevedo, ex-chefe de gabinete de Amorim, representante do Brasil na ONU em Genebra, considerada uma das diplomatas mais experientes. Também aparecem na lista Regina Dunlop, embaixadora número dois da missão brasileira na ONU; Vera Lúcia Machado, subsecretária-geral de Política, com 42 anos de carreira diplomática; e Maria Luiza Viotti, primeira embaixadora do Brasil na ONU, que representou o país no voto contra as sanções ao Irã.
Continuísmo - Para todas essas opções, a linha é continuísta. “Patriota é herdeiro intelectual do Amorim. Todos os outros também são muito alinhados a ele. A única possibilidade de alguma pequena mudança seria Jobim, o que sinalizaria uma movimentação em relação ao plano militar na política externa”, avaliou Alberto Pfeifer, membro do Conselho Empresarial da América Latina e analista do Grupo de Análise de Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo (Gacint-USP).
Para Christian Lohbauer, também membro do Gacint, estes nomes fazem parte de uma escola ‘nacionalista’ do Itamaraty, que começou com Araújo Castro, diplomata do período imperial. “Eles foram doutrinados conforme o pensamento de que o Brasil pode mudar a geografia nacional, priorizando a agenda sul-sul, o que não traz benefício econômico nenhum”, afirmou.
Nesta estratégia, segundo Lohbauer, Lula se saía melhor. “Ele tem uma personalidade que se impõe, e foi criada uma imagem dele no mundo por sua história de vida. Esse carisma Dilma não tem. Ela é mais técnica", disse. "Na política externa, não haverá o mesmo traquejo e a mesma popularidade que Lula teve. Por isso, Dilma será ainda mais refém dessa escola. Montarão a agenda dela e terão muito mais força do que tinham com a autonomia moral de Lula.”
Futuro - A nova chancelaria deve continuar a abrir embaixadas. Sob a batuta de Lula, o Ministério das Relações Exteriores inaugurou 62 representações diplomáticas e consulares pelo mundo. Atualmente, o país conta com 212 postos.
Muitos destes postos, no entanto, não têm qualquer relevância no cenário político e econômico internacional. “É a miragem do Brasil potência. Partindo disso, passa-se a acreditar que o país pode interferir em assuntos como o conflito no Oriente Médio e a questão nuclear no Irã”, afirmou Magnoli. “Essa miragem foi a base da política externa do governo Lula, continuará sendo a do governo Dilma, e faz com que o Brasil multiplique suas embaixadas em uma campanha estridente para conseguir uma cadeira permanente no conselho de segurança da ONU. Ou seja, a cara da nova política externa é a mesma da anterior.”
REVISTA VEJA
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