quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Zilda Arns, nossa verdadeira primeira-dama


Zilda Arns, nossa verdadeira primeira-dama
A pessoa Marisa merece ser respeitada, mas seria puxa-saquismo reconhecer nela, no papel de primeira-dama.
Luiz Oliveira Rios - 17/1/2010 - 19h45

José Cordeiro/AE
Num dos antigos e belos salmos atribuídos ao Rei Davi está escrito: "A quem honra, honra; a quem glória, glória!" – depreendendo-se dessa expressão que devemos reconhecer os feitos de quem os realizou de fato e de direito.

A internet está repleta de mensagens duras contra a primeira-dama Marisa. Em uma delas, ela aparece numa foto (com o rosto cheio de botox, parecendo irmã gêmea de Marta Suplicy) e sendo condecorada por causa de "relevantes" serviços prestados ao Brasil. Quais são eles, ninguém sabe, ninguém viu. Talvez sejam "serviços super secretos" ...

O vestido vermelho que ela usava na ocasião talvez tenha servido para disfarçar-lhe o rubor das faces, pois é impossível que no seu íntimo um fio de voz não lhe segredasse naquele instante: "Você não merece essa honraria!"


A pessoa Marisa merece ser respeitada, mas seria puxa-saquismo reconhecer nela, no papel de primeira-dama, quaisquer atributos que mereçam sequer um "muito obrigado!". Muito obrigado por nada.

Triste Brasil que enaltece as futilidades! Vergonhosa mídia que, com as exceções de praxe, dá espaço às patacoadas de "otoridades", deslumbradas por cargos efêmeros, que lhes foram tão somente outorgados pelo povo. Este mesmo povo que padece e morre à míngua nas
filas dos serviços públicos de saúde, enquanto Dona Marisa vai às compras numa cidade qualquer, de um país qualquer, numa dessas inúteis visitas que o Sr. Inácio da Silva adora fazer, com todas as despesas pagas via cartões corporativos. Até quando?

Mas grande Brasil, que no céu ornado pela beleza ímpar do Cruzeiro do Sul ainda ostenta estrelas solitárias, cuja luz alegra o dia daqueles
que perambulam pelas trevas da insensatez humana...

Uma dessas estrelas magníficas, de luz própria, que nunca será tragada pelo buraco negro da estupidez humana, materialmente se extinguiu. De maneira trágica até, mas na nobreza da ação de servir ao próximo como a si mesmo – e não na vergonheira de viver e ostentar às custas de terceiros.


O seu luzir nos acompanhará para todo o sempre. Essa estrela tinha nome e uma simpatia esfuziante: Zilda Arns.P ara ela, Zilda Arns,
a primeira-dama brasileira de fato e de direito, reconhecida – esta sim! – pelos relevantes serviços prestados ao Brasil; para ela, pois, os cidadãos brasileiros, do Oiapoque ao Chuí, não só tiram o chapéu, mas curvam-se num singelo agradecimento.


Não de súditos, mas de irmãos que se entrelaçam pelos fios de ouro da dignidade, que deve (ou deveria) construir todos os relacionamentos, sejam eles pessoais, comerciais ou políticos. (Infelizmente, no Brasil, são os fios podres da corrupção e da desfaçatez que vêm tecendo a rede social urdida na mentira).

A estrela Zilda Arns, como matéria, se desfez; mas a sua luz, de plasma celeste, não se desfaz, nem jamais se apagará, muito pelo contrário:
materializar-se-á na memória de cada brasileiro, ao lembrar de seu sorriso franco e límpido a emoldurar-lhe a face sulcada com naturalidade pelo tempo – e que, por isso, a deixava cada vez mais bela como mãe e avó, que soube envelhecer com dignidade; mulher feminina (permitam-me o pleonasmo), mas com braço forte e simultaneamente terno, de ombros largos e meigos, postura ereta, mas sempre de joelhos diante de um Deus que não suporta as injustiças – principalmente as perpetradas por aqueles que ocupam cargos elevados, que podem fazer o bem, mas deliberadamente praticam o mal ("A quem muito é dado, muito será cobrado").

Convenhamos: seria até covardia decidir a quem – entre Marisa e a Dama Zilda Arns – o Brasil deveria reverenciar. A primeira-dama oficial pode ter recebido uma comenda do tipo "Ordem do Ipiranga", "Ordem do Cruzeiro" ou algo assemelhado, tanto faz como tanto fez – até porque ela nada fez mesmo.

Porém, a Dama Zilda Arns, muito além da Ordem disso ou daquilo, certamente se inscreveu na Ordem do Cosmos. E essa comenda é eternal, posto que ela, por suas palavras e seus atos, fez acontecer aqui na Terra um rosário de bem aventuranças para aqueles que se julgavam esquecidos pelos céus.

Empreendedora incansável, deixou de lado os dogmas dessa ou daquela religião para mergulhar nos ensinamentos reais Daquele que abraçava a todos com amor indelével – posto que a única religião verdadeira, como nô-lo ensinam as Sagradas Letras, é "visitar os órfãos, os doentes, os encarcerados e amparar as crianças e as viúvas".


E, nisso, Zilda Arns soube imitar na prática o seu mestre Jesus. Agora, certamente, muitos políticos, com caras (de pau) compungidas, vão tecer loas a ela. Não acreditemos neles. Eles, seus assessores e suas esposas continuarão a gastar o dinheiro que não lhes pertence. Continuarão sendo o que sempre foram: lobos em pele de cordeiros. Ou, numa paráfrase ao Cristo tão amado por Zilda Arns, muitos desses políticos são como "sepulcros caiados: limpos por fora, mas podres por dentro".

A quem, pois, as honrarias reais, e a quem devemos apagar da lembrança, posto que a própria História se envergonhará de mencionar?

Ave, Zilda Arns! Estarás para sempre na memória dos cidadãos brasileiros que reconhecem em ti todos os atributos de uma verdadeira Dama – quiçá de Rainha! Descanse em paz!

Luiz Oliveira Rios é orientador de estratégias empresariais oliveira.rios@hotmail.com

DC

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