sexta-feira, 28 de maio de 2010

Lula defende papel do Brasil no acordo com Irã


Lula arruma bandeira antes de encontro em Brasília. Em um discurso duro na abertura do 3o Fórum Mundial de Aliança de Civilizações, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta sexta-feira que o Brasil manterá seus esforços pela paz no Oriente Médio e fez duras críticas ao comportamento dos países desenvolvidos durante e após a crise financeira mundial.27/05/2010.

REUTERS/Ricardo Moraes

RIO DE JANEIRO (Reuters) - Em um discurso duro na abertura do 3o Fórum Mundial de Aliança de Civilizações, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta sexta-feira que o Brasil manterá seus esforços pela paz no Oriente Médio. Fez também duras críticas ao comportamento dos países desenvolvidos durante e após a crise financeira mundial.
"O mundo precisa de um Oriente Médio em paz. O Brasil não está alheio a essa necessidade. Defendemos um planeta livre de armas e o cumprimento do Tratado de Não-Proliferação (Nuclear)", disse Lula na abertura do evento.

O presidente lembrou que recentemente esteve no Irã com o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, onde mediaram um acordo de troca de combustível nuclear com Teerã. No entanto, o acordo não impediu que potências ocidentais, que suspeitam que o Irã busca armas atômicas, seguissem pressionando por novas sanções ao país.

"Esse é um conflito que ameaça muito mais a estabilidade de uma região importante do planeta... acreditamos que a energia nuclear deve ser um instrumento para promoção do desenvolvimento, e não uma ameaça", disse.

Para Lula, as armas nucleares deixam o mundo mais inseguro e os arsenais são peças ultrapassadas e obsoletas de um tempo que ficou para trás.

O presidente foi duro ao falar dos países desenvolvidos que, para ele, resistem a promover mudanças que dêem maior protagonismo ao mundo em desenvolvimento após a crise financeira global.

"A crise financeira que se abateu sobre todos mostrou o quão necessário será contar com organizações multilaterais poderosas, à altura de um mundo cada vez mais diverso e multipolar. Mas constatamos grande resistência à mudança", disse.

"Incapazes de assumir seus próprios erros, alguns governantes buscam transferir o ônus da crise para os mais fracos. Adotam medidas protecionistas que oneram bens e serviços e, ao mesmo tempo, se mostram lenientes com os paraísos fiscais, responsabilizam imigrantes pela crise social. A comunidade internacional precisa reagir", disse.

Lula também atacou a tese de que está em curso um choque entre as civilizações ocidental e islâmica, justamente a ideia que o Fórum Mundial de Aliança de Civilizações tenta combater.

"Essas teorias são criminosas quando utilizadas como pretexto para ações bélicas ditas preventivas. O Brasil aposta num entendimento que faz calar as armas, investe na esperança que supera o medo. Faz da política econômica e social sua única e melhor arma."
Já o premiê turco afirmou que as potências nucleares deveriam eliminar suas próprias armas atômicas para ajudar nas negociações para a paz mundial.

"Ouvimos pessoas falando sobre impedir que o Irã consiga armas nucleares, mas quem fala contra essas armas têm armas nucleares", disse Erdogan, que recebeu aplausos da plateia.

"Não conseguiremos ter paz mundial com a proliferação de armas nucleares no planeta", acrescentou.

Para ele, sem esse gesto das potências nucleares, qualquer argumentação contra o país persa fica fragilizada. "Quem fala disso deveria eliminar as armas nucleares de seus próprios países... essa é a única forma de serem convincentes", ponderou.

(Reportagem de Rodrigo Viga Gaier)

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