sexta-feira, 14 de maio de 2010

Programa nuclear iraniano é tema de Lula na Rússia


Presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa de cerimônia ao desembarcar em Moscou para visita oficial à Rússia.

REUTERS/Alexander Natruskin

Por Fernando Exman
MOSCOU (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva visita Moscou nesta quinta e sexta-feira com o objetivo de tentar aproximar as políticas externas do Brasil e Rússia, um dos protagonistas nas negociações sobre o programa nuclear iraniano.

Os presidentes Lula, que já chegou à capital russa, e Dmitry Medvedev devem anunciar durante a visita o lançamento de um plano de ação que incluirá os principais temas da agenda bilateral que precisam avançar nos próximos anos.

Segundo a embaixadora Maria Edileuza Fontenele Reis, diretora-geral do Departamento de Europa do Ministério das Relações Exteriores, o desarmamento e a não proliferação de armas nucleares, no qual serão incluídas as conversas sobre a questão iraniana, constarão do plano.

"É natural que (a negociação sobre o programa nuclear iraniano) seja tratada, porque é um tema da atualidade e de grande envolvimento dos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), e a Rússia é um deles", disse à Reuters a diplomata.

"Estamos ampliando a coordenação em organismos multilaterais e no estabelecimento de mecanismos de consulta política, inclusive no Bric (grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia e China)."

Depois de deixar a capital russa, Lula seguirá para o Catar e Teerã. Lideradas pelos Estados Unidos, potências ocidentais acusam Teerã de buscar a fabricação de armas nucleares e defendem a aplicação de uma quarta rodada de sanções contra o país persa pela ONU. O governo de Mahmoud Ahmadinejad nega ter tal intenção, e alega querer a energia nuclear para fins pacíficos.

Em meio à disputa, o Brasil vem trabalhando para que o Irã alcance uma solução negociada com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), depois que os dois lados chegaram a um impasse sobre a troca de urânio iraniano por combustível nuclear já pronto para o uso. O Brasil também desenvolve a energia nuclear com objetivos pacíficos.

No âmbito externo, o governo Lula tem trabalhado para conquistar um maior espaço na cena internacional, mas enfrenta dificuldades para conseguir participar com efetividade da agenda do Oriente Médio. Os EUA e outras potências ocidentais têm criticado a postura do Brasil quanto ao Irã. Alertam que Ahmadinejad está usando o Brasil para ganhar tempo, cenário rechaçado pelo governo brasileiro.

COMÉRCIO BILATERAL
O comércio também estará na pauta da visita de Lula a Moscou. Um dos temas do plano de ação será a realização de estudos por parte dos bancos centrais dos dois países para viabilizar trocas comerciais em moeda local. Segundo a embaixadora, a iniciativa ainda está em um estágio "embrionário".

A representatividade das exportações brasileiras nas importações russas caiu para 1,50 por cento em 2009 de 1,59 por cento no ano anterior. Na outra ponta da corrente comercial, a participação do Brasil nas exportações da Rússia em 2009 foi de 0,46 por cento, abaixo do 0,71 por cento registrado em 2008.

"Temos muito espaço para aumentar as exportações para a Rússia. Nós exportamos muito pouco. Como a Rússia é um mercado grande, vale a pena insistir, e essa é uma das missões do presidente", sublinhou o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Welber Barral.

Segundo ele, as principais dificuldades do empresário brasileiro são as barreiras sanitárias --sobretudo às exportações de carne de porco, que representam uma ameaça aos produtores russos do alimento-- e o tamanho do mercado russo. O exportador nem sempre consegue consolidar uma rede de centros de distribuição de mercadorias, comentou Barral.

Enquanto o Brasil exporta principalmente alimentos, as vendas da Rússia ao Brasil se concentram em fertilizantes.

"Falta agregar valor. É fundamental que haja mais investimentos dos dois países", comentou o presidente da Câmara Brasil Rússia de Comércio, Indústria e Turismo, Gilberto Ramos.

Ele considera positivo o comércio com moedas locais. "Não acho complicado, e já está sendo feito entre a Rússia e a China e a Rússia e a Índia", disse Ramos.

"Garante economicidade e o sigilo das operações. É uma questão de acerto entre os BCs."

De acordo com levantamento do Ministério do Desenvolvimento, os produtos brasileiros com maior potencial de exportação para a Rússia são carnes bovina, suína e de frango, queijos não fundidos, bananas, laranjas, maçãs, óleo de soja, cacau e chocolate, fumo, medicamentos, pneus, caixas de papelão, tubos de ferro ou aço, máquinas e equipamentos domésticos.
Por outro lado, analisa o ministério, as compras brasileiras poderiam aumentar sobretudo em óleos combustíveis, níquel, carvão, adubos e fertilizantes, celulose, produtos siderúrgicos, papel, peixes congelados, borracha sintética, amoníaco, válvulas e torneiras, produtos de titânio, polímeros e hidrocarbonetos.

No primeiro trimestre de 2010, as exportações brasileiras para a Rússia totalizaram 869,4 milhões de dólares, alta de 55,1 por cento em relação ao mesmo período de 2009. Já as compras de produtos russos pelo Brasil somaram 345,6 milhões de dólares no mesmo período, crescimento de 91,0 por cento.

No acumulado de 2009, as vendas brasileiras ao mercado russo foram de 2,87 bilhões de dólares, queda de 38,4 por cento na comparação com 2008. Já as importações de produtos russos totalizaram 1,41 bilhão de dólares, baixa de 57,6 por cento. O saldo da balança comercial bilateral foi positivo para o Brasil em 2009 e 2008 em 1,46 bilhão de dólares e 1,32 bilhão de dólares, respectivamente.

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