sábado, 23 de abril de 2011

O "pega pra capar" da política

Folha de S.Paulo - São Paulo - Fernando de Barros e Silva: Pelada em praça pública - 23/04/2011

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Pelada em praça pública

SÃO PAULO - Roupa suja se lava em casa. Sim, mas a oposição já não tem roupa, está pelada no meio da rua, exibindo a sua crise em praça pública. Perdeu, literalmente, a vergonha de mostrar seus vexames.

A nudez é tanto do DEM quanto do PSDB. Anteontem, no jornal "O Globo", o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) desafiava: "Que os coveiros fracassados sigam o caminho adesista e de traição. As urnas darão a resposta!". Referia-se ao tesoureiro do partido, Saulo Queiróz, de saída para o PSD de Gilberto Kassab, e ia além: "O Saulo é um cão fila do Jorge Bornhausen, que está agindo nos bastidores para minar o partido". O governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, deve trocar o DEM pelo PSD.

No "Painel" da Folha de ontem, o senador tucano Aloysio Nunes dizia o seguinte: "Stalin bania os inimigos para se manter no poder. O PSDB agora extermina seus amigos para se manter na oposição". Atacava o grupo alckmista, acusado de segregar vereadores simpáticos a Serra-Kassab, seis dos quais debandaram do ninho piando alto contra a turma do governador.

O PSD pode ter sido o deflagrador imediato dessa crise, mas o partido de ocasião do prefeito é muito mais um sintoma da fragilidade da oposição do que a sua causa.

É irônico que essas cenas de desinteligência explícita venham logo na sequência do artigo em que FHC se esforçava para dar um sentido programático, estratégico e coletivo à ação do PSDB.

A palavra de ordem mostra-se impotente e vazia diante do clima de "cada um por si" que toma conta dos tucanos, do DEM, dos dissidentes, da oposição. Kassab virou líder do Partido Salve-se quem Puder.

A fusão dos cacos do PSDB com o que restou do DEM entrou na roda de conversas. Mas, por ora, as reações contrárias de lado a lado à formação desse novo-velho partido parecem mais fortes.

O movimento da oposição não é mesmo de fusão nem de união, mas de dissolução, de esfarelamento.

Comentário

Em meados de 2009, o deputado Saulo Queiroz produziu um estudo para o DEM mostrando a quase impossibilidade de José Serra ser eleito. O estudo antecipava todos os pontos de resistência em relação à Serra, que ficariam nítidos durante a campanha. Parte do estudo vazou para O Globo. A partir daí, o deputado passou a ser evitado por colegas, com receio de que o simples fato de conversar com ele pudesse comprometê-los com o vingativo Serra.

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